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Perguntas, respostas e dicas: Montanhistas unidos contra o COVID-19

Rio de Janeiro, 7 de abril de 2020

A Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) publicou uma nota no dia 24/03/2020 sobre a prática do montanhismo frente à pandemia do COVID-19. Como entidade de administração do esporte do montanhismo e da escalada, queremos disponibilizar informações e orientações que julgamos ser relevantes para montanhistas (escaladores e caminhantes de trilhas), durante esse período de emergência em saúde pública.

Dúvidas e questionamentos chegaram à CBME e vimos aqui tentar esclarecer e aproveitamos para incorporar orientações e sugestões extras. 

Sobre os comunicados da CBME

A CBME, em 24/03/2020, emitiu recomendações de como praticar o montanhismo ao ar livre quando a recomendação geral é ficar em casa. Qual foi a motivação?

A CBME se baseou nas orientações e recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (informes de 17 e 19/03/2020), do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde no dia da publicação da nota. 

Em locais onde não houvesse restrição legal, essas organizações não desestuimulavam a realização do exercício físico ao ar livre desde que fosse realizado individualmente, evitando aglomerações e contatos pessoais próximos, e fosse possível manter os cuidados preconizados de etiqueta respiratória e de higiene. Cabe ressaltar que há locais onde a proibição da prática de exercícios ao ar livre pode ser decretada por ato do legislativo ou do executivo. Nesses casos, nenhum exercício ao ar livre deve ser praticado. 

Mas em nota publicada em 07/04/2020 a CBME mostra um posicionamento para todos ficarem em casa. O que mudou?

Durante este breve período, várias entidades acadêmico-científicas como a própria Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte atualizaram suas recomendações. A CBME promoveu um debate interno com base nessas atualizações e no contexto do esporte nos locais de prática, havendo consenso em favor do isolamento social. 

Além disso, desde a publicação da nota em 24/03, o cenário mudou para pior e as previsões dizem que ainda irão piorar. O website do Ministério da Saúde em 06/04/2020 registrava 11.130 casos no Brasil e 486 óbitos. Cabe lembrar que podemos presumir que o número de casos deve ser maior considerando a limitação de testes disponíveis no país. Além disso, dados de países como Itália e EUA, mostram a importância do respeito ao isolamento social.

Embora esses números sejam crescentes e atinjam a toda a sociedade, estamos recebendo informações de pessoas escalando em diversos lugares, embora isso contrarie as recomendações da CBME, do UIAA, da Sociedade Brasileira do Exercício e do Esportiva, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Além disso, um caso de montanhista ainda exigiu resgate, utilizando preciosos tempo e recursos de agentes da saúde pública que poderiam estar sendo destinados à luta contra o coronavírus.

Chegou também a informação de que estariam estimulando pessoas a viajar para escalar numa interpretação equivocada da nota da CBME. Portanto, queremos esclarecer, destacar e reenfatizar a nota da CBME: 

  • Não é o momento de viajar
  • A escalada não é recomendada, em nenhuma das suas modalidades
  • Aglomerações devem ser evitadas a qualquer custo, inclusive em refúgios e abrigos de montanha.

Essa recomendação vale para todas as modalidades de montanhismo?

A CBME entende que o montanhismo engloba as atividades da escalada e da caminhada em trilhas e algumas práticas derivadas e vale para todas essas modalidades. 

No meu estado não há quarentena, posso viajar para escalar ou fazer uma trilha? 

No entendimento da CBME, não é o momento de viajar recreativamente, por mais perto que seja. Precisamos lembrar que podemos estar com o vírus sem nenhum sinal ou sintoma e muitos locais de montanhismo – escalada e trilhas – são comunidades pequenas e rurais com acesso limitado a serviços médicos, como Três Picos (RJ), Pedra do Baú (SP), Serra do Cipó (MG) e outras. Sem querer, podemos estar ampliando a propagação do vírus para essas localidades com menos infraestrutura hospitalar e capacidade de atendimento. Também, o Ministro da Saúde, já falou de que teremos necessidade de remanejamento de recursos materiais e humanos de saúde, em locais que sejam atingidos em momentos diferentes pela epidemia, o que implica em reconhecer que mesmo um recurso não saturado em uma região, deva ser usado com parcimônia, para que não falte em outra localidade. 

Orientações e sugestões extras 

A escalada é a minha vida!  Preciso escalar! 

Como montanhistas e escaladores, entendemos o sentimento e a importância que essas atividades têm nas nossas vidas. Sentimos falta do cheiro do mato, de mergulhar na cachoeira, de tocar a pedra, de sentir o braço bombar, de estar com nossos amigos. Essas atividades nos definem como pessoas, são parte de quem somos… Entendemos o sentimento e compartilhamos as saudades, a necessidade, a vontade. 

Porém precisamos lembrar que, enquanto podemos sentir que morreremos (metaforicamente) por deixar de escalar ou estar nas montanhas por um tempo, pessoas estão morrendo literalmente pelo coronavírus. Vamos pensar nos mais vulneráveis e em dar o exemplo…

Sejamos responsáveis e solidários. A montanha continuará lá.

Mas tem gente indo escalar….

Sabemos que algumas pessoas estão optando por não ficar isolado e, com isso, circulando… Não podemos controlar os outros, somente nós mesmos: Continuem a seguir o isolamento e as recomendações. É improvável que essas pessoas o façam por ignorância sobre a situação, assim “gritar e xingar”  terá provavelmente pouca ressonância nessas pessoas. Tentem promover a mudança de comportamento sem xingamentos, sem difamar pessoalmente os outros.

Precisamos de mais união, mais solidariedade. 

O que posso fazer nesse momento dentro de casa?
Há algumas maneiras de se manter conectado à escalada e às trilhas nesse momento: 

  • Diversos filmes de escalada e montanhismo foram disponibilizados gratuitamente na internet.
  • Faça manutenção nos seus equipamentos (siga as dicas dos manuais e das marcas para isso).
  • Aproveite o momento para desenvolver seu conhecimento: veja palestras, debates, cursos online sobre montanhismo e escalada. 
  • Escreva sobre aquela escalada, aquela aventura, aquela trilha. Compartilhe suas ideias e pensamentos com outros sobre como promover o desenvolvimento do montanhismo.
  • Continue praticando exercícios em casa, o que pode ajudar a fortalecer o corpo e a mente. 

Trabalho diretamente com o montanhismo e o COVID-19 irá impactar diretamente a minha renda.  O que posso fazer? 

Entendemos o impacto econômico que o isolamento e uma possível quarentena possa ocasionar nos negócios de guias, instrutores, donos de abrigo e muro de escalada, e nos solidarizamos. 

Algumas ideias para considerarem:

  • Considere vender guiadas, aulas e cursos agora para serem marcadas depois do fim da pandemia (crie, por exemplo, um voucher) 
  • Se tiver um refúgio, considere uma promoção para estimular as pessoas comprarem diárias que poderão ser marcadas depois do fim da pandemia. Por exemplo: abaixem o preço da diária, incluam uma pizza, uma cerveja na diária com preço completo, etc.
  • Para os muros de escalada, peçam às pessoas que têm mensalidades e pacotes para, dentro das possibilidades de cada um, mantê-las ativas e considerem dar um bônus no futuro para essas pessoas.
  • Pensem em como engajar seus clientes com palestras, debates e interações online. 

Não queremos com essas sugestões ensinar como gerir negócios, são apenas ideias. 

Outros recursos

O UIAA criou uma página com notícias e informações sobre o coronavírus para montanhistas.

A psicóloga esportiva e CEO da organização chamada Climbing Psychology, Madeleine Crane, escreveu um artigo dando dicas para escaladores durante o período de isolamento social. O artigo e webinar (tradução literal: Dicas da saúde mental para escaladores durante o isolamento social)  está em inglês, mas pode ser traduzido por ferramentas gratuitas online.